Dores de Campos, na Região das Vertentes, é a típica “cidadezinha” do interior de Minas, pacata, de gente religiosa e muito acolhedora: são 9300 habitantes descendentes de homens que desbravaram a região no lombo de mulas. Foram os tropeiros, dois séculos atrás, que transformaram o antigo povoado Patusca.
“O legado dos tropeiros é um legado econômico e cultural. Dores de campos é o que os tropeiros foram no passado. A nossa economia e toda baseada no couro, na produção de selas e artigos em geral de montaria em função do que esses tropeiros fizeram”, conta o historiador Helbert Aliani Silva.
Os tropeiros de Dores eram comerciantes, eles viajavam vendendo mercadorias, de fazenda em fazenda e até povoados de acesso mais difícil. As tropas que partiam da cidade seguiam para o Sul de Minas e todo interior de São Paulo. No início do século XIX se firmaram como grandes fornecedoras de material para montaria.
Oitenta por cento dos moradores estão ligados à produção. Entre as grandes, médias e as fábricas de fundo de quintal são quase 100 selarias. Em média, 12 mil arreios e selas são vendidos todos os meses. Em uma dessas selarias o Terra de Minas encontrou “seu Rumeo”, um senhor de 77 anos, representante da ultima geração de tropeiros da cidade.
“Eu comecei viajando com meu pai na idade de 12 anos. Sai da escola e comecei a viajar com ele. A primeira viagem que fiz, sem vir em casa, foram oito meses. Depois foi assim, 9 meses, 10… Nós viajávamos com 18 animais, 16 de carga e dois de sela”, conta.
Há pelo menos 50 anos as tropas deixaram de existir em Dores de Campos. Mas a influência dos tropeiros é tão grande que algumas pessoas resolveram, por hobbie criar as próprias tropas.